Jantar de Natal na Cúria – Pequeno relato para a posteridade
Dezembro 2008
9H, toca o tlm – Olha, estou um bocado atrasado ….- Ok, então às 10H lá…10H estava lá e… nada! … toca o tlm – Estou a sair…Bom, às 11H partimos. Um sol fantástico e um frio espectacular. Viagem calma, atravessando o congelador de Torres e os glaciares de Alcobaça. Chegada a Leiria, lá estava o Vítor Alexandre - Paulinha, paulinha, o encontro era às 10H aqui ….- Mas eu estava lá às 10 …..(alguém ficou sem relógio hoje)

Mal-entendido resolvido, combinámos oferecer um relógio ao Tozé. As minhas mãos continuavam, congeladas. Entrei no stand à procura do cafezito …. Cevada???? Logo alguém com a sabedoria da idade me apresentou uma bela pomada …. Com as mãos ainda a tremer bebi aquele néctar dos deuses … e o milagre aconteceu! Consegui ter mãos!! Agora já estou pronta para continuar.

Estrada fora, lá fomos até à Mealhada. Entrada no Típico restaurante, o Vítor cumprimenta os donos (quem é que ele não conhece???). Mesa reservada à espera, bem localizada perto da lareira. Óptimo, assim além de mexer as mãos também vou conseguir mexer os talheres…Eis senão quando ….. afinal o restaurante é frequentado por gente de sangue “azul”. A famosa Criolina (também conhecida por Carolina) entra acompanhada pelos seguranças. Sentou-se perto e não tirou os olhos de tão garbosos Motards (o que ela queria sei eu!). Claro que a conversa girou em torno da literatura e da dialéctica legal sobre como Salgar os Pintos ….

Meia dúzia de Kms até à Cúria e não fomos os primeiros a chegar. O nosso Organizador já lá estava, de lista na mão, pronto para picar as presenças. Tal é o esforço de organização que foi necessário levar o Kinder-TIR para caber toda a logística das listas actualizadas de participantes.Cumprimenta, check-in, chega mais um, ouvem-se barulhos de motos, chega mais outro, cumprimentos, olha quem ele é, mais uma moto e mais outra, e ainda mais, o pessoal chegava. O Vítor teve direito a quarto com varanda e vista para o jardim. Pudera, quem sabe, sabe! E com a imponência da realeza, assomou à dita cuja para ver o povo a chegar.

Seguiu-se uma breve visita à loja Hermés Chag Shui para comprar o presente de Natal e a Valise (caríssima) que iria guardar os preciosos cupões do sorteio dos presentes. Alguns convivas aproveitaram para fazer umas comprinhas e reformular o guarda-roupa …Claro, está, que uma visita pelo Parque tinha de ser.

E a tarde correu rápido. Convívio, conversa, conhecer pessoalmente pessoas das quais só se sabe o nome, nunca mais são oito e meia. Já comia qualquer coisa.

Finalmente é permitido entrar na sala de jantar. O Organizador controlava a porta, escrevia uns bilhetinhos misteriosos que colocava na Valise. Nome, prenda tem? … Nome, prendinha comprou? Aquilo é que era controle. Não pode ser, só recebe quem trouxe prendinha. Estava lá escrito no site!!!

O jantar começou. A fome aperta e o pão desaparece. Por entre as conversas circulava o Bacalhau, a pinga acompanhava, o pato também sumiu. Chegou a hora crítica …. O Pai Natal, disfarçado de Organizador, inicia o discurso. Ele eram livros, ferramentas, barretes, motos, postais, canecas, enfim, tudo se oferecia, a espelhar a criatividade dos convivas. Todos se divertiram e no fim….. alguns ganharam uns prémios chorudos ….. pois, quando os bilhetinhos misteriosos voltaram à Valise … saíram de novo com mais novidades. Até houve uma potencial compra transformada em prenda …. Viva a Kapital do Mundo !!!!

De barriga cheia, abraçados aos presentes, o pessoal lá se arrastou até ao bar para continuar a noite e pôr a conversa em dia. Foram subindo pouco a pouco até aos quartos para sonhar com o passeio do dia seguinte e, claro, do anunciado almoço, cuja localização nem de GPS lá se chegava.

Domingo de manhã, despertar cedo. O percurso não era longo mas as paisagens mereciam um passeio calmo. Curiosamente, estavam também hospedados no Hotel o grande tenor intergaláctico, Pablo Olivieri Caruso e a grande pianista internacional LaKota. Ao verem tão digníssima Comunidade decidiram dar um concerto matinal, um género de balada grunhida, um musical para engasgar o mais afoito.

Posto isto, a malta fugiu para as motos, motores a trabalhar, vamos mas é para o sossego do campo, andar de moto e fazer curvas. Uma paragem no Buçaco (mais longa que o esperado - mas esta parte vem depois). Segue-se uma viagem relaxante até ao Caramulo, paragem para as fotos, vamos lá continuar senão a vitela arrefece.Após umas curvinhas de abrir o apetite, a estrada transformou-se em caminho …. Então que é isto? Lés-a-Lés antecipado? Um caminho estreito entre muros de pedra em direcção a uma casa perdida na paisagem, no fim do mundo o almoço esperava. Terreiro largo, estacionam-se as motos, estacionam-se alguns no chão. Pequeno trajecto a pé até um terraço onde aguardava uma mesa cheia de acepipes. O pessoal atacou os pastelinhos, o presunto, os queijinhos, está na hora de acalmar o estômago depois de tantas curvas. Agora as curvas são para chegar aos pratinhos, ao branquinho. Aquela panela cheia de arroz de vinha de alhos. E que fumegava bem. Que cheirinho …O ataque foi fulminante. Pratos na mão, caldo de arroz com carne quentinho, as conversas diminuíram. A quantidade era demais. Depois de todos servidos, o panelão ainda estava a meio. A mastigar calmamente alguém comentava ….. E ainda vem a vitela ….. O quê ???? …. Dei comigo a segurar um prato ainda a meio, já com o estômago cheio. Não pode ser …. Mas era!!!Era mesmo o sinal para entrarmos no restaurante.

Sentados às mesas assistimos ao desfilar da vitela. Tabuleiros de carne fumegante … batatinhas assadas … arroz … salada … tudo … muito … cheio … demais. A conversa acompanhou o repasto, enche o prato, mastiga, pausa para conversar, enche de novo o prato, blá, blá, blá, vou só comer mais um bocadinho, os tabuleiros não paravam de chegar.E o convívio lá decorreu, calmamente

Finalmente a vitela cansou-se de correr por entre as mesas. Mas a faina ainda estava a meio. Apareceram umas sobremesas gulosas, fruta, docinhos, acompanhadas de cafezitos, digestivos, era só coisas boas a passarem por ali. Já não dava mais. Começa a debandada para fora do restaurante, vamos fugir à tentação de rebentar a comer. Mas ainda faltam os discursos. Obrigada a todos pela presença, obrigada à organização, obrigada ao mentor deste local perdido nos confins de Portugal.E como profundo agradecimento por tão espectacular fim-de-semana, o grande Organizador foi presenteado ….

O outro lado da História – Homenagem ao espírito motociclista

Domingo de manhã, preparada para rolar. Capacete, luvas, moto a trabalhar, tudo pronto. Alguém chega e diz – Tens o pneu traseiro em baixo …????? Saio da moto e espreito – Raios, está mesmo em baixo. E não foi apenas perda de ar …. Que diabo ….. querem ver … Tenho um furo??? Um furo ??? Sim, é confirmado por mais pessoas que vêm ver.E agora? Estou confusa, sinto-me impotente. Nunca tive um furo, nem mesmo uma avaria. Só estou habituada a ter quedas ou acidentes. Coisas graves. Um furo, tão simples como isso e sinto-me impotente. Alguém, rapidamente, põe a moto no descanso central. O pneu é mirado com atenção por vários companheiros de estrada. Não se encontra nada.- Tenho uma bomba que se liga ao isqueiro da moto. Queres tentar encher o pneu?- Isto com espuma resolve-se. Já fiz muitos Kms com ela. Vamos a uma estação de serviço e resolve-se…

O tempo foge. Já todos têm as motos a trabalhar, estão prontos para o passeio de Domingo. A partida começa a estar atrasada. O Grupo é grande e qualquer atraso pode comprometer o dia. Mas continuavam ali, a tentar encontrar uma solução. Não sei o que fazer.

Há um tipo enorme que diz – Vens atrás de mim até à bomba ali em baixo. Vá anda …. Pedro, vão seguindo que nós já nos encontramos no Buçaco. Não o conheço, não estava no jantar ontem. O Pedro concorda. As motos já se alinhavam para a partida. Arrancamos, passamos por todos e seguimos. A moto estava pesada, as curvas derrapavam, eu ia meia atordoada. Lá segui aquela moto, aquele tipo que percebi tratarem por Paulão. Conhecia de nome, um dos nomes desconhecidos que navegam neste fórum. Chegámos à bomba, comprei a espuma. O Paulão, com dois dedos, pôs a moto no descanso central, injectou a espuma, deu ar ao pneu. Enquanto isto, trocamos umas palavras, perguntas de ignorante nestes assuntos, respostas de conhecedor de situações de apuros. Não te preocupes, já me aconteceu muitas vezes. Agora é seguir viagem. Estrada de novo e a moto parecia outra. Mais alta. Deu-me uma confiança relativa. Será que isto resulta? Seguia atrás dele, meia receosa, meia contente.

Logo a seguir ao Luso a moto ficou pesada de novo. Parei numa bomba. Pneu em baixo outra vez. Não te preocupes, dizia o Paulão, não gastei a lata toda. Vamos por o resto da espuma. De novo injectar a dita e eis que …. A espuma começa a sair pela válvula. E agora? Agora, talvez seja folga da válvula - diz ele. Vou ligar ao João que ele é mecânico. Telefonema feito e vamos para o sol esperar, pois o frio era muito. Eu tremia não só do frio mas também da frustração. O tempo passava e eu via o meu Domingo a acabar. Nem meia hora depois chegaram duas motos. O João Vaz e o Rui Batista. Então rapariga, isso não se resolve?

Uma rápida vista de olhos e o João dá o veredicto – Isto só tirando o pneu. Não temos ferramenta. Não vai dar. E agora? Agora, nada a fazer. Bem, o melhor é aproveitares o dia. Vais à pendura e ainda almoças. Mais tarde resolves o que fazer. Voltámos de novo para o Hotel para estacionar a moto. Sempre era mais seguro que ficar ali. Já muito atrasados, voltámos à estrada, bem rápido, para chegar a tempo do almoço. À pendura do Rui Batista eu olhava para aqueles motociclistas que tinham deixado o Grupo para me apoiarem.

Só me vinha ao pensamento a ideia de – Espírito Motociclista. Aquele espírito de entreajuda, que nos faz parar quando vemos um companheiro avariado mesmo sem o conhecer. Coisa que não acontece com os automobilistas. Será que os motociclistas são pessoas diferentes? Será que a paixão pelas motos é sinónimo de uma forma de estar na vida? Companheirismo, entreajuda, solidariedade. Há milhões de pessoas solidárias por este mundo fora com diferentes paixões. Mas o que é certo é que todos os motociclistas verdadeiros o são!

De certeza já muitos experimentaram a sensação de ter alguém a ajudar. Sabe bem. É bom ser motociclista e partilhar do companheirismo que todos os automobilistas falam mas que, muitas das vezes, não praticam. É bom pertencer a este mundo que muitos não entendem, conduzir estes veículos de duas rodas que muitos acham perigoso, sentir esta liberdade, ter esta paixão. E sobretudo, ter um universo de amigos, conhecidos e desconhecidos que, sem duvida, estão lá quando precisamos, pois todos os motociclistas partilham deste espírito fantástico – o espírito motociclista!



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